sábado, 30 de maio de 2009

Boa noite, Deus (dessas histórias que nos contam na cama, antes da gente dormir)**





Óia aqui, Deus. Cá embaixo, ó! Mi dissero qui si eu falá seu nomi, ocê aparece. Tá tudo tão quietim. Será qui mi enganaro? Eu só quiria falar uma coisinha. Dizê qui as coisa cá imbaixo andam um tanto isquisita. Cada doidice que cê nem magina! Os homi corre o dia todo atrás de dinhêro. É uma correia que só. Ôtro dia mataru minha égua. Tive vontade é de dar um fim no infiliz. Matou de pura maldade. A minha bichinha ficou se estribuchando lá no chão, istirada qui nem qualquer coisa. O sinhô inté pede pra nóis amá genti cruel assim. Mé qui si ama gente qui tem parte com o capiroto?

Eu sei amá meus fio, minha muié, meus cabrito. Purque tem brio nos óio deles, tem essa coisa chamada amô. Agora o sinhô mi pede, coisa mais danada de doida, me pede pra amá o matador da minha bichinha. Eu inté admiro quem ama assim. Inté admiro esse amor grande. Mas num entra. É pidi dimais pra mim. O sinhô mi intende? É qui eu sô de carne e osso, sou qui nem essa gente esquisita que lhe contei. Vez ou outra mi esqueço de oiá o céu, de falar “bom dia” pro Sinhô. Deve di ser purisso! Eu assim, tão longe, tão desapercebido das coisa sua, nem consigo amá grande desse jeito. Intão vou lhe pedir uma coisica: fica bem perto di mim, purque cunversá com o Sinhô é bom por dimais. É bom como eu nem maginava. Agora vou durmi. Boa noite, Deus.



** http://www.youtube.com/watch?v=MeZeI8m6Ohk




Ps: Mesmo que eu ainda defenda a Eutanásia e outras coisinhas, mas Deus: releva aí, vai! ;)

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Sobre Vendas e Gruilhões *





Deixa-me falar? Você me calou esse tempo todo com suas bugigangas e penduricalhos. Aparecia toda perfumada com “tênis da Nike e relógio da Adidas”. Eu a observada de longe. Tão bonita você é. Mas aquilo foi me agoniando. Que beleza é essa que cega seus olhos para a crueldade do mundo? Já observou o homem revirando o lixo na entrada da faculdade enquanto você descia do seu carro zero quilômetro? É tão bonito ter dinheiro pra se ir ao shopping e comprar mais uma bolsa pra coleção ou viajar para lugares “chatos, bobos e feios”. É tão atraente se exibir pras colegas, vestindo todos os dias blusas de marcas diferentes. Alguém já viu seu interior? Ou você fica escondendo com seus batons e pó? Diga-me se há algo em você que a incomoda. Diga-me se a injustiça do mundo lhe causa algum furor. Diga-me se você, alguma noite, parou para olhar as estrelas e agradeceu pelo ar que respirava. Já vai? Escuta só mais um pouco. Esse tempo todo você me fez digerir sua beleza febril, assistindo seus desfiles inigualáveis.

Agora desça um pouco do seu salto alto. Ponha os pés no chão e observe tudo aquilo que você evitou enxergar. A vida não é feita de algodão doce. O mesmo dinheiro que você usa pra desperdiçar na loja de apetrechos pro seu cachorrinho é o mesmo dinheiro que clama o estômago do garotinho que vende balas no sinal. A vida não é feita de roda gigante. Você não está sempre acima dos outros. Veja quanta podridão, quantos olhos mareados, quantos corpos à pele e osso, quantas pessoas que não sabem nem o que é sonho porque perderam a esperança em qualquer esquina. Eu sei que você não tem culpa. Sei disso. Mas não maquie sua realidade. Jogue fora esses grilhões e essas vendas que a impedem de ver. Depois disso, você pode voltar a desfilar, porque aí sim seu sorriso vai ser diferente. Você terá entendido. E sua beleza se destacará no meio da multidão.


* Texto “inspirado” em uma dessas mulheres que eu vejo há 15 anos, praticamente todos os dias. Em uma dessas mulheres que realmente são lindas de se ver, mas que não parecem ver além do muro das belas casas e lugares para que viajam. De tudo, não é só para ela. É para todos nós. Tentativa primeira de um futuro “ensaio sobre a cegueira”.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Sorte a sua que sou romântico

Sorte a sua que sou romântico

A você, que (não) me procura.



Seus olhos eram embriagados de uma loucura que eu desconhecia. Havia um magnetismo nas pupilas dilatadas; destiladas. Delatadas. Você nunca conseguiu esconder um segredo de mim. Por mais insignificante que fosse. Era sua raiva. Meu triunfo.

- É o fim. – eu disse me referindo ao nosso romance. Você entendeu.

- O que se há de fazer? Tudo já nasce condenado. – conformismo nunca te alcançou de forma tão contundente.

- Você esperava? – minhas palavras vinham aos lábios como flechas, sem eu perceber ou controlar.

Seu consentimento foi tácito. Percebi enquanto você rodava o copo com o dedo indicador na borda, fazendo o objeto se inclinar de forma perigosa, suicida, quase.

- Disseram que nenhum homem é uma ilha. Eu acho que sempre foi. – foram suas palavras, num discurso péssimo, pessimista.

Então me encarou com saudade, de tempos que ainda não tínhamos vivido.

- Os laços se desfazem facilmente, não percebe? Esquecemos que, para deixar firme, é preciso dar um nó. – sua boca continuou. Você não. Você era distante das próprias palavras.

- O amor, pra ser amor, não precisa de toque. – eu deixei escapar, numa (in)sensibilidade que me assustou.

- Eu sei lá de amor. Quem se dá conta daquilo que transborda do peito? Alguns chamam de amor. E se pra mim for outra coisa? Algo maior?



- Algo maior que o amor? – eu estava confuso, confesso.

O restaurante não estava cheio. Uma moça cantava no palco, enquanto tocava violão. Uma vozinha macia que entrava de um jeito gostoso de ouvir. Você sorriu. Não sei se da minha pergunta, ou da idéia que passou pela sua cabeça. Foi quando você se levantou, seguiu até o palco, cochichou algumas palavras com a moça do violão depois de interrompê-la. Meus olhos cuspiam lágrimas, nem sei por quê.

- “Desculpe estou um pouco atrasada, mas espero que ainda dê tempo, de te dizer...” – sim, era sua voz, cantando aquela música do Nando Reis que eu sonhei tantas vezes te ouvir cantando, vinda do palco, acompanhada do som do violão que você não tocava, e sim a moça.

Daí em diante, foi como se você estivesse cantando ao meu ouvido. Com um pedido de desculpas intrínseco e uma voz amargurada de quem pede um beijo imediato. Eu teria pegado você pelos cabelos, tirado você do palco, brigado por ter me feito passar tamanho vexame.

Mas não o fiz. Meus sentidos eram todo atenção à sua performance. De um jeito inusitado, você me afastou o mau presságio da nossa conversa inicial. Depois do seu show, tão particular quanto nossas conversas de sábado à tarde, sentados descalços em um tapete altamente alérgico da sua sala de estar, você desceu do palco com um emaranhado de estrelas nos cabelos. Aproximou-se de mim.

- Pode me bater, se quiser. Quis ser louca. Sua. Quis te perder em breve instante só pra poder te encontrar de novo.



- Não vou bater. Nem brigar.



- Não?! – sua cara era de desapontamento.

- Não. É que sou romântico. Sorte sua.



Algum bêbado aplaudiu. Nós rimos. A lua, lá fora, atravessava seus olhos, buscando, quiçá, as estrelas dos cabelos. Você estava diferente naquela noite. Eu não soube dizer por quê. Mas havia algo maior. Dentro ou fora, não sei. Um incômodo. Algo que transbordava, insistentemente. Você segurou minhas mãos. E qualquer resposta pareceu pequena, imprópria. Fugaz.

Foi um desses sonhos que a gente não queria, e nem deveria, acordar. “Sonho parece verdade quando a gente esquece de acordar” (Teatro Mágico).

quarta-feira, 20 de maio de 2009

INCRIVEL, EU DIRIA.

E entao eu cheguei ao meu paraiso. INCRIVEL, EU DIRIA. Sim sim , afirmo com propriedade que Montreal e incrivelmente incrivel. Meus amigos aqui (de nacionalidade latina, mas nao brasileiros) fazem a cidade parecer ainda mais irreal. O frio faz tudo parecer mais de verdade, as placas e dizeres em frances ainda me fazem girar o pescoco... As aulinhas de frances que me roubaram as ferias de seis meses, sao encantadoras. Mesmo que a principio tenham sido assustadoras... Hoje esta tudo no seu devido lugar, as aulas estao ok, a comida esta muito boa, e a minha casa.. bem, a minha casa dispensa maiores comentarios. Eu tenho a melhor homestay de Montreal, com certeza! Thank you Lynda!

Estou aqui a poucos dias, mas a tal da saudade ja consegue me visitar. Saudade de fazer meu irmao dormir e de ver ele me chamando com aquele dialeto de bebe, saudade da minha irma e das inumeras besteiras que a gente faz, saudade do meu pai porque ele e tudo pra mim. Saudade das minhas amigas, por estarem sempre me fazendo rir, e me ocupando o tempo com um milhao de historias mirabolantes. Saudade de pessoas de quem eu ja estava com saudades mesmo quando estavamos “perto” (Saudade se esquece muito facil quando se lembra de dedicacao sem retribuicao /duda). Saudade dos meus amigos que sempre ficam me ouvindo lamentar e lamentar, que ficam rindo da minha cara na maioria das vezes, mas que sao muito muito importantes pra mim. Tudo isso em apenas 4 dias? INCRIVEL, EU DIRIA. Talvez seja mesmo incrivel, mas eu nao me importo.

Parei o texto por aqui e me peguei pensando em porque eu escrevo com vontade de publicar. Cheguei a conclusao de que e porque aqui eu falo o que eu queria falar, expresso minhas verdades (mesmo que fiquem pelo avesso, meio na contramao), como se as pessoas pra quem eu gostaria de falar tudo isso perdessem seu tempo lendo o blog. Numa busca implacavel, missao impossivel ( ou qualquer outro filme que quiser), descobri que algumas pessoas realmente se importam com o que eu escrevo aqui. Pessoas conhecidas sao assiduas na leitura dos meus escritos desajeitados. Fiquei chocada. INCRIVEL, EU DISSE.


Por Thais Barbosa


p.s.: meus amores, e verdade, eu ja estou com saudades... Amo voces muito muito.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Sobre os implícitos

Queria escrever sobre tanta coisa, usar os nomes verdadeiros e não “ele, ela” (sim virgula e não o conectivo e). Queria escrever sobre emoções, sentimentos, coisas que me vem na mente em qualquer momento de ociosidade (freqüente nessas férias de seis meses). Queria, queria. Quero, quero. Mas não vou. Manterei o padrão imposto ou adquirido (ou os dois) e deixarei subentendido, nas entrelinhas.

Então falarei sobre isso, sobre os pressupostos e implícitos. Não falarei de modo técnico e brilhante como o fez minha querida amiga e mestre em retórica. Falarei mais sobre o uso deles.

Eu adoro e venero o uso dos implícitos. Eu mesma uso e abuso deles. Tenho, talvez por esta admiração, uma certa percepção bem alta de quando está se dizendo mais do que realmente foi dito (coisa que devo ao Andrey), mas ultimamente tenho me deparado muito com a frase:” mas estava implícito!”. E em minha defesa: Não estava!

Erros de português, daqueles bem básicos, me arrepiam. O mau uso do implícito também. Estamos numa fase onde a Língua Portuguesa perdeu o respeito. Todos acham que a entendem, que a dominam, que são ótimos (até engenheiro tem blog! Haha, brincadeira). Sei que estou muito, muitíssimo distante de ser o supra-sumo da língua portuguesa, ou mesmo de ser uma pessoa que não comete erros ao escrever, mas eu ainda respeito esta língua e me vigio ao máximo (exceção: (des)”acordo ortográfico”) para não cometer erros.

Mas você deve estar se perguntando onde quero chegar com toda essa enrolação. O meu objetivo aqui era simplesmente desabafar sobre a revolta que eu me encontro por verem as pessoas deturpando COMPLETAMENTE os implícitos e pressupostos.

Existe uma regra para usá-los, todas as palavras têm que estar em harmonia, e o mais importante: tem que fazer sentido. Falar que vai a padaria, sem contexto, não deixa implícito que vai trazer chicletes. Então por favor. Não usem falsos implícitos. Sejam explícitos comigo. Digam diretamente o que querem, o que pensam, o que sentem. E se puderem trazer junto uma caixa de Tylenol para a acabar com essa dor de cabeça que me causam, eu agradeço.

por Thais Barbosa

domingo, 3 de maio de 2009

Cartas que (não) mandam....

Caro amigo,

Tenho o grato prazer de lhe comunicar que a sua Inspiração partiu de viagem.
Saiu logo que a manhã se levantou, acompanhada de uma mala cheia de livros e algumas mudas de roupa.
Pediu-me para lhe avisar, que se demorará pela capital “DenãofazerAbsolutamenteNada”, uma vez que ficou de se encontrar com a Vaidade e a Presunção.
A Fama, ficou de lá ir ter mais tarde, não sendo certo que o Reconhecimento apareça, uma vez que anda muito ocupado.
Pede-lhe a Inspiração que olhe pelos meninos: Criação e Arte, o melhor que puder.
Há poemas no congelador, duas latas de textos por abrir, e uns restos de uma crônica para serem aquecidos.
A Criação tem que tomar o xarope para a garganta, pois tosse muito de noite. A Arte sabe a medida, não se preocupe…
Não deixe as meninas (manias) ficarem acordadas até muito tarde, que têm o hábito de escrever nos sites da Internet, e vigie por favor os seus excessos em endereços menos próprios, que estão, como sabe, na idade difícil da transição adolescência/vida adulta.
Sem mais de momento, saiba que na ausência de sua amada companheira Perspectiva, poderá contar comigo para aquilo que necessitar.
Não hesite em chamar-me, caso a tarefa se revele demasiado penosa para si.

Sempre ao seu dispor,
A sua amiga de sempre

Esperança.

por: Andrey S. Brugger