segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Faz bem, acredite.



Vai minha tristeza e diz a ela que sem ela
Não pode ser, diz-lhe numa prece
Que ela regresse, porque eu não posso
Mais sofrer. Chega de saudade a realidade
É que sem ela não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai”
Tom Jobim


Não adianta mais me segurar, chorar, espernear, tentar ser quem não sou. Para se mudar têm de se conhecer. Concordo. Se conhecer dói. Dói, muito. É necessário? Depende, pra mim foi. Precisa de paciência. Precisa. Não só sua como de quem convive com você. Passa. Sim, passa. Rápido ou devagar, é também muito pessoal, além de depender do ponto de vista.

A face Caliban é importante. Mas, essência, chega de saudade, volta, vem viver outra vez ao meu lado.

Viver de ondas, de altos baixos, de marés, de lua, de inquietude e mansidão. Viver no mundo, ser do mundo. Faz bem, acredite.

sábado, 29 de agosto de 2009

Vai ver é isso...

"O problema é que quero muitas
coisas simples,
então pareço exigente".
Fernanda Young

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Eu, eu mesmo...



Estive pensando: Nascemos sós, nós morremos sós. Essencialmente, não passamos todos de feitos e desfeitos da solidão, partilhada ou não, será? As pessoas ficam tão angustiadas com elas mesmas, com suas manias, suas loucuras, não é da solidão que têm medo, elas têm medo delas mesmas. E é extremamente admirável, e de certa forma espantoso por ser quase inatingível, o quanto você ama isso. Ao invés de ignorar tuas falhas, as sensações desagradáveis, os sentimentos perturbadores, que vivem obstruindo, e até mesmo postergando, tuas vontades, teus sonhos; se valendo das verdades convenientemente inventadas que te ensinaram, e essas, sim, você faz questão de desprezar, você aceita a tua condição solitária sendo inteiramente “responsável pelo que tu és”. E você não tem medo da tua insanidade, do animal que tens em ti e faz questão de alimentar, você deixa viver livre e feliz, na maior parte das vezes; uma vez que aprendeu que infelicidade é questão de prefixo e força de vontade.

Enquanto os outros, tristemente, se trancafiam nas próprias jaulas procurando desesperadamente esquecer que estão ali, quem sabe por não terem escolha mais sensata, e fácil, senão a resignação, Você se assume e não concebe a vida partilhada com quem não consegue fazer o mesmo, você tem me ensinado o valor da parceria. Quiçá, seja por você ser grande demais que você se baste, tens discernimento pra distinguir quando as pessoas estão se distraindo umas com as outras, só para evitarem ficar sós, e quando estão dividindo suas solidões; ai você vira pra mim com aquele olhar e a gente cantarola juntos: “ Os opostos se distraem, os dispostos se atraem”. Quanto ao meu medo, meu medo do futuro, tento matar refazendo o meu presente. Mas tenho que te confessar, com orgulho ferido, que o estranhamento perante ti, te faz outra vez novo e surpreendente. E Deus sabe o quanto isso me impulsiona, do mesmo modo que Deus impulsiona as pessoas de expressões tristes, cansadas demais para quererem viver suas vidas, a se por de pé quando vem um novo dia. Mas você permanece inviolável, ao mesmo tempo em que brinco de chegar a ti, lembro que a sua presença tem trazido qualquer coisa de revolucionário, animador, auto-conhecedor e senhor de si mesmo. Você tem me trazido perspectivas; e o meu impulso, sem destino certo, se resume a palavras.

Um abraço do seu parceiro,

Antigo Eu.



" Ah, se o que eu sou é também o que eu escolhi ser,

aceito a condição"

* Adaptado de um texto que recebi via email, de autoria desconhecida.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Vulnerabilidade



"Não há uma fatalidade exterior. Mas existe uma fatalidade interior: há sempre um minuto em que nos descobrimos vulneráveis; então, os erros atraem-nos como uma vertigem."
O pequeno príncipe – Antoine de Saint-Exupéry


Como posso agora te culpar? Culpar o mundo, o “lá fora” é muito fácil. Difícil é aceitar que a situação de agora fui eu quem causou. Ninguém pode ser culpado pelas noites mal ou não dormidas, pelas lágrimas que são tão insistentes, pelo modo anti-social estar, ultimamente, ligado 24hs/dia.

Você não tem culpa do meu mau-humor, das minhas tiradas afiadas, do meu “gelo”. As carinhas no MSN são fuga, simples fuga. Não estou pra conversa. Não quero ouvir coisas boas de mim, nem mais coisas más. Por que ainda tento me socializar é uma pergunta que me faço diariamente.

Olha, não se preocupa. “Me deixa, que hoje eu to de bobeira”. Posso não ficar bem o tempo todo, mas passa. Não, não me pede explicações, já não posso te dar mais. Tudo bem, concordo que eu te contava tudo, que você me lia até em pensamento. Mas é hora de eu montar os meus valores, sei lá. Nada explica, nem Freud, não tenta. Não, eu não deixei de gostar de você. Não, ainda sou sua amiga! Pára, não estou chateada com você, nem nada. Acredite em mim. Sou eu ainda... Juro! Só que numa face mais Caliban, espera que a Ariel já volta!

domingo, 23 de agosto de 2009

Em resposta à meditação




- Eu entendo porque todos gostam dela e não olham pra mim. Ela é linda, fazer o que...
- Ela é mesmo,mas voce também é.
- Não precisa dizer isso pra me fazer sentir melhor. Sério, eu vou ficar bem.
- Escuta, você é inteligente, divertida, simpática e bonita. Bem mais legal que essas garotas fúteis por aí. Você só precisa de uma chance, de um piscar de olhos, de um olhar mais demorado. Aí pronto, todo mundo concorda: você é linda, e é pelo conjunto da obra.





Escrito pela Vanessa em um de seus monólogos, mas poderia ser conversa nossa.


E mesmo assim, eu queria te perguntar, se você tem ai contigo alguma coisa pra me dar, se tem espaço de sobra no seu coração. Quer levar minha bagagem ou não? [...] E mesmo assim, queria te contar que eu tenho aqui comigo alguma coisa pra te dar. Tem espaço de sobra no meu coração. Eu vou levar sua bagagem e o que mais estiver à mão".
[Tiê - Dois]

Meditação



“Quem acreditou
No amor, no sorriso e na flor
Então sonhou, sonhou
E perdeu a paz
O amor, o sorriso e a flor
Se transformam depressa demais
Quem no coração
Abrigou a tristeza de ver
Tudo isso se perder
E na solidão
Procurou o caminho e seguiu
Já descrente de um dia feliz
Quem chorou, chorou
E tanto que o seu pranto já secou
Quem depois voltou
Ao amor, ao sorriso e à flor
Então tudo encontrou
Pois a própria dor
Revelou o caminho do amor
E a tristeza acabou...”


Tom Jobim

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Declaro para todos os devidos fins...


Que não namoro pelos motivos a seguir expostos:

Em primeiro lugar, por ter firmado comigo mesmo o compromisso moral de levar a sério o instituto do namoro. Dessa forma, não vou estar com uma cidadã pelo simples, embora devido, sorriso no rosto dos meus amigos; ou ainda pela certeza da companhia nas mazelas de um sábado à noite quando Juiz de Fora se esquece que é uma cidade que possui uma grande massa de universitários; sei lá, me viro bem do meu jeito.

Em segundo lugar, conheci uma pessoa bastante legal, o Andrey. Sério, desde 2004 eu conhecia um cidadão de mesmo nome, endereço, registro civil mas que dependia muito de “ter alguém para gostar”, e se esquecia que ele já possuía: ele próprio! Não, relaxem...nada da história do amor próprio, falo de amadurecimento e auto-conhecimento. Faz bem, principalmente quando você percebe que se há alguma frase que, em qualquer situação, faz sentido é “TUDO PASSA”. E passa, e respira, e ultrapassa aquela questão de “reportar tudo o que você faz para alguém”. Você não reporta, não se importa. E se quiser, até fecha a porta e coloca o som alto e está valendo.

Em terceiro lugar, e talvez mais importante, o fato de que jamais vou encarar “namoro” como casamento, cada momento tem sua peculiaridade e grau de envolvimento; já pensei bastante sobre isso, não entendo muito a lógica de ‘namoro, agora adeus amigos solteiros “. Acho que a questão da confiança é obrigatória em todos os casos.

Confesso, aos amigos, que ando descrente de ‘amor incondicional”, ando preferindo a parceria, a conversa. Atração é, logicamente, importante; mas será essencial como diz o mestre Vinicius? Também não haverá, aqui e agora, espaço para aquela velha história de que beleza acaba e tal. É simplesmente raciocinar sobre a ótica da questão de princípio. É não querer mais ser aquele protótipo globalmente feito de que tenho que ser um juiz federal com uma loira burra ao lado; prefiro a advocacia diária com uma cidadã que vai ser suporte e ao mesmo tempo desafio, que vai entender a minha retórica e me dar nó quanto ao discurso; admiração é o remédio para os relacionamentos, está ai o resumo da tese.

Em conversa que tive nesse fim de semana com a minha parceira de blog, falávamos disso. Admiração e possibilidades do Nando Reis ter acertado novamente ao dizer que “o amor pode estar do seu lado”. Será? E ai fico eu procurando felicidade tal qual aquele avozinho do Mário Quintana, que busca os óculos, sem saber que os tem bem na ponta do nariz?! O argumento a enfrentar é a resposta à pergunta: “amizade colorida funciona?”. Depende, como tudo no Direito. Prós e contras, como tudo na vida. Confiança, respeito, admiração já se têm, vide a relação primogênita. E se o relacionamento não der certo? Acho que aí vem a principal questão: Amizade colorida demanda MATURIDADE. E maturidade somada à confiança original traz a abençoada possibilidade do “ir devagar”, buscar a sintonia e acerto no “tempo” da relação.

Devaneios de último dia de férias. “Mas tudo que acontece na vida tem o momento, o destino! Viver é uma arte, um ofício, só que precisa ter cuidado; para perceber que olhar só pra dentro é o maior desperdício. Porque o amor pode estar do seu lado!”.

sábado, 15 de agosto de 2009

Aula prática - Professor convidado: Rubem Alves


"AS COISAS QUE AMO DEIXO-AS LIVRES. SE VOLTAREM, PORQUE AS CONQUISTEI...SE NÃO VOLTAREM É PORQUE NUNCA AS TIVE."


Escreveu-me uma leitora aflita pedindo que eu a socorresse, posto que eu fora a causa involuntária do seu sofrimento. A leitura de um livro escrito por mim, A menina e o pássaro encantado, causara-lhe grande perturbação em virtude de coisas que ali digo através do bico do pássaro. Pois está lá dito que a saudade faz bem ao amor, pois que é justamente na dor da separação que o coração faz a operação mágica de re-encantar os amantes que o cotidiano só faz banalizar. Esta era a razão que sempre levava o pássaro, depois de um tempo de abraços e amassos, a dizer que era hora de partir, pois sem a saudade tanto ele quanto a menina perderiam o seu encanto e o amor acabaria.

Imagino que minha leitora deve ter opinião semelhante à da menina que de forma alguma concordava com as razões do pássaro, o que a levou ao tresloucado gesto de comprar uma gaiola de prata onde encerrou o pássaro adormecido, pensando que, assim, viveriam em lua-de-mel sem fim. O final, quem leu o livro sabe, quem não leu que compre. Pois a leitora pergunta-me se é preciso que haja saudade para que o amor cresça.

Saudade é um buraco dolorido na alma. A presença de uma ausência. A gente sabe que alguma coisa está faltando. Um pedaço nos foi arrancado. Tudo fica ruim. A saudade fica uma aura que nos rodeia. Por onde quer que a gente vá, ela vai também. Tudo nos faz lembrar a pessoa querida. Tudo que é bonito fica triste, pois o bonito sem a pessoa amada é sempre triste. Aí, então, a gente aprende o que significa amar: esse desejo pelo reencontro que trará a alegria de volta.

A saudade se parece muito com a fome. A fome também é um vazio. O corpo sabe que alguma coisa está faltando. A fome é a saudade do corpo. A saudade é a fome da alma. Imagine, agora, você é doida por camarão. Só de falar em camarão a boca se enche d’água. Aí, movida pela fome de camarão, você resolve comprar camarão por um mês. Compra logo 50 quilos, dos grandes, e come camarão no almoço e no jantar. No começo é aquela festa. ‘Camarão à baiana, camarão à grega, camarão empanado, camarão à milanesa, bobó de camarão, risoto de camarão, camarão na moranga’. Pois eu lhe garanto que sua fome por camarão não vai durar uma semana. Ao final da primeira semana só cheiro do camarão vai provocar convulsões no seu estômago, e o que você vai querer, mesmo, é arroz, feijão, chuchu refogado, tomate e bife com batatas fritas. Diz um ditado que a melhor comida é angu com fome. Saudade é fome. Enquanto existir a fome, o angu será gostoso. Enquanto existir a saudade o amor será gostoso. Advirto-a, então: Se você tem idéias semelhantes às da menina da estória e planeja engaiolar o pássaro a fim de não ter saudade, na ilusão de que o amor pode viver de beijos e amassos, trate de livrar-se delas. Beijos e amassos são como camarão: deliciosos, excitantes. Mas, se servidos todo dia, enjoativos...

Você invoca a raposa de O pequeno príncipe contra mim, pois que ela diz que a saudade só tem sentido se, se sabe quando a pessoa amada volta. Aí, sabendo-se a hora da volta, começa-se o ritual da espera... Isso é muito verdadeiro e é muito bom. Mas vou invocar o Chico contra a raposa: “Saudade é o revés de um parto. Saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”. O filho nunca voltará. Resta a saudade como manifestação do amor. O quarto que se arruma é um rito de amor, sabendo-se que a pessoa amada nunca voltará.
Querida amiga: infelizmente o amor é feito com muitos “nunca mais” – a expressão mais triste que existe. Aí você pula de pássaro a sapo, perguntando-me se, no caso de o sapo não se transformar em príncipe no primeiro beijo, se deve insistir com a beijação. Aqui cabem algumas observações.

Primeira: Todo príncipe que é submetido a uma dieta de camarões sem trégua vira sapo.

Segunda: Há sapos resistentes a beijo. Prova disso é a estória da princezinha que deixou cair no açude uma bola de ouro que seu pai lhe dera de presente (o rei era doidão, sem juízo). Ouvindo o choro da menina, saiu da água um enorme sapo de olhos esbugalhados que disse que lhe daria a bola de ouro se ela concordasse em dormir com ele. Até hoje sapos dizem a mesma coisa a meninas tolas, só que hoje não se fala em “dormir com” mas em “ficar junto”. A menina concordou, mas logo que se viu de posse da bola saiu em desabalada carreira, deixando para trás o sapo e os seus pulos. Mas o sapo não se deu por vencido. Foi ao palácio, chamou o rei, relatou o acontecido, e o rei, doidão e sem juízo como já afirmamos, obrigou a menina a dormir com o sapo. Se fosse hoje, evidentemente, ela fugiria para a Pachá. Quando o sapo se aproximou dela, ela teve tanto nojo que o pegou por uma perna e o jogou contra a parede. Foi zás-trás. Ao cair no chão o sapo virou um garboso príncipe. Assim é: há sapos que só se transformam em príncipes quando são jogados contra a parede. Tente essa técnica.

Terceira: Se, após a magia dos beijos e a magia de se jogar o sapo na parede, o sapo continuar sapo, é porque ele é sapo mesmo. Não há magia que resolva. Nesse caso, a única solução é você virar sapa. Porque, se você for sapa, você achará o seu sapo um príncipe maravilhoso. Terão, então, muitos sapinhos.

Você me pergunta sobre o que fazer quando o coração acredita firmemente que o sapo é príncipe e o sapo diz que ele é sapo mesmo, geneticamente, não sendo coisa de opção... O que fazer? Acho que é preciso desconfiar do coração. O coração é ótimo para amar. Mas, por isso mesmo, suas opiniões não são confiáveis. Muita gente acreditou firmemente que o Sol girava em torno da Terra e que o nazismo era maravilhoso. Pode ser que o sapo esteja dizendo a verdade. A vantagem do sapo é que ele nunca baterá as asas, como o pássaro. Muita gente prefere sapos a pássaros. Os sapos são mais confiáveis. A gente sempre sabe onde estão: no charco. Já os pássaros – onde estarão? Como é dolorido vê-los aprontando para a partida! A vantagem dos pássaros sobre os sapos é que eles são belos: seres indomáveis, selvagens.

Uma pergunta: Por que é que você não deixa de ser a menina e transforma-se no pássaro? Bata as asas. Deixe o sapo esperando. Feito a Shirley Valentine. Quem sabe a magia acontecerá? Ainda não se testou o poder da saudade no coração dos sapos. Poder ser que funcione.


"Ela é mais sentimental que eu
Então, fica bem se eu espero um pouquinho mais."

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Sentença - 2

SENTENÇA: A Escola Nacional de Magistratura incluiu, na sexta-feira (30/6/2008), em seu banco de sentenças, a decisão vazada em termos pouco comuns do juiz Rafael Gonçalves de Paula, da 3ª Vara Criminal da Comarca de Palmas, em Tocantins.A entidade considerou de bom senso a decisão de seu associado, mandando soltar Saul Rodrigues Rocha e Hagamenon Rodrigues Rocha, detidos sob acusação de furtarem duas melancias:
'DECIDO: Trata-se de auto de prisão em flagrante de Saul Rodrigues Rocha e Hagamenon Rodrigues Rocha, que foram detidos em virtude do suposto furto de duas (2) melancias.Instado a se manifestar, o Sr. Promotor de Justiça opinou pela manutenção dos indiciados na prisão.Para conceder a liberdade aos indiciados, eu poderia invocar inúmeros fundamentos: os ensinamentos de Jesus Cristo, Buda e Ghandi, o Direito Natural, o princípio da insignificância ou bagatela, o princípio da intervenção mínima, os princípios do chamado Direito alternativo, o furto famélico, a injustiça da prisão de um lavrador e de um auxiliar de serviços gerais em contraposição à liberdade dos engravatados e dos políticos do mensalão deste governo, que sonegam milhões dos cofres públicos, o risco de se colocar os indiciados na Universidade do Crime (o sistema penitenciário nacional)...Poderia sustentar que duas melancias não enriquecem nem empobrecem ninguém. Poderia aproveitar para fazer um discurso contra a situação econômica brasileira, que mantém 95% da população sobrevivendo com o mínimo necessário apesar da promessa deste presidente que muito fala, nada sabe e pouco faz. Poderia brandir minha ira contra os neo-liberais, o consenso de Washington, a cartilha demagógica da esquerda, a utopia do socialismo, acolonização européia,....Poderia dizer que George Bush joga bilhões de dólares em bombas na cabeça dos iraquianos, enquanto bilhões de seres humanos passam fome pela Terra - e aí, cadê a Justiça nesse mundo?Poderia mesmo admitir minha mediocridade por não saber argumentar diante de tamanha obviedade. Tantas são as possibilidades que ousarei agir em total desprezo às normas técnicas: não vou apontar nenhum desses fundamentos como razão de decidir.Simplesmente mandarei soltar os indiciados. Quem quiser que escolha o motivo.Expeçam-se os alvarás. Intimem-se.Rafael Gonçalves de Paula Juiz de DireitoPalmas, Estado do Tocantins

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo...



“Sou eu que vou seguir você
Do primeiro rabisco até o be-a-bá
Em todos os desenhos coloridos vou estar
A casa, a montanha, duas nuvens no céu
E um sol a sorrir no papel
Sou eu que vou ser seu colega,
Seus problemas ajudar a resolver
te acompanhar nas provas bimestrais você vai ver
Serei de você confidente fiel,
Se seu pranto molhar meu papel
Sou eu que vou ser seu amigo,
Vou lhe dar abrigo, se você quiser
Quando surgirem seus primeiros raios de mulher
A vida se abrirá num feroz carrossel
E você vai rasgar meu papel
O que está escrito em mim
Comigo ficará guardado, se lhe dá prazer
A vida segue sempre em frente, o que se há de fazer
Só peço a você um favor, se puder:
Não me esqueça num canto qualquer”



Foi numa folha de caderno que eu fiz um coração entre e em volta dos nossos nomes. Na verdade foram em várias folhas, em várias matérias, em várias cores, com váriações de letras, tamanhos e firulas. Foi também nas folhas de caderno que eu escrevi que nosso amor era pra sempre, que eu rascunhei bilhetes, que eu rascunhei e escrevi cartas que eu (talvez nunca) te entreguei. Foram nas últimas páginas que trocamos bilhetes, recados, juras de amor, ironias, brigas, ciumes.

Foram nas primeiras páginas que, quando pequenos, nossas mães gastaram adesivos e dedicação para escrever o nome da matéria. Foram em pedaços rasgados de cadernos que fizemos nossos primeiros desenhos, sem muitos contornos e completamente abstratos. Foram nessas páginas que aprendemos a escrever o alfabeto, que desenvolvemos toda uma língua, um meio de comunicação e manipulação.

Foram nossos cadernos que protegeram nossas cabeças num dia de chuva, que nos esconderam nas aulas em que o sono batia. Foram nossos cadernos grandes companheiros diários. Como não! Diários. Não só de dia-a-dia, mas de segredos, vontades inóspitas, paixões.

Quando olha um caderno novo, todo em branco, não pensa o que vai acabar saindo dali? Para quem irão os bilhetes, as juras, as cartas? Em quais páginas cairão lágrimas? Quais guardarão uma matéria interessante, um “te amo” inesperado, ou até mesmo a cola para a prova?

Eu comprei um caderno novo essa semana. Sei que junto dele muita coisa ficará marcada, escrita. Quero ver como vai terminar, mas antes quero viver o durante...

Depois de todo um texto, depois das folhas limpas do meu caderno novo, UFJF , me deixa estudar?

Sim, texto feito apenas por minha vontade caloura.

P.S.: 11 de agosto, dia do advogado =)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Carta




Moça, diz pra mim, como vai você?

É preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê. Saiba que a tua solidão me dói e que também sei que é difícil ser feliz mais do que fomos todos nós.

Você supõe que eu queira sempre o céu, sei que o vento que entortou a flor passou também por nosso lar e foi você quem desviou, com golpes de pincel. Eu sei, é (esse) o amor que ninguém mais vê.

Deixa eu ver aquela moça! Toma o teu café, teu sonho, voa mais; que o bloco da família vai atrás.

Eu vou te visitar. Põe mais um na mesa de jantar, porque hoje eu vou pra aí te ver e tira o som dessa TV, pra gente conversar.

Vamos marcar aquele churrasco há muito adiado, fazer aquele samba. Diz pro Maumau usar o tantan, o italo o violão. Pede pro Falcão e Iguinho me esperar, e avisa pro Schettini que eu só vou chegar no último vagão (e acho bom ele não furar! hehe).

É bom te ver sorrir, menina. Deixa vir à moça, que eu também vou atrás e a banda diz: assim é que se faz!

Beijos, fica bem...porque, afinal, é preciso força para sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê!

ps: Te vejo sexta no Cultural? Tributo aos Los Hermanos.


* Inspiração clara em " Alem do que se Vê" de Marcelo Camelo.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Do que não fazer em um bar...



1 - Certificar-se quanto ao montante de dinheiro que pode ser usado.

Condição básica. Afinal, imagine uma situação em que os cidadãos sentam-se à mesa, bebem, entornam e depois se deparam com a insuficiência de créditos! * Para evitar tal constrangimento e a consequente ida para a cozinha afim de lavar pratos ou limpar o lugar, melhor verificar o quanto há para ser gasto. Prometo que passarei a seguir essa premissa; mas não, cidadãos, não fomos lavar pratos e nem limpar o bar, graças ao que será explicado no primeiro asterisco.

2 - Não acreditar em promoções escritas a mão pelo dono do bar em cartazes de aparência duvidosa.

Você chega e lê naquela entrada: " Só para raros (claro, só tem você e seu grupo de amigos). Entrada ao preço da razão (sabia que estava barato demais)". E ainda avista aquela promoção de que se a consumação ultrapassar os R$ 35,00, a brahma passa a custar R$2,90. Você, todo molecote, todo garoto moleque, se diverte, acha um lucro; mas esquece que após 10 brahmas que, em tese, formariam a consumação básica da promoção, já não lembramos da promoção, nem de termos entrado no bar, e nos perguntamos: "como deu 86 reais de consumação? E quem são aquelas garotas na mesa? O falcão (não o do rappa, nem do "I´m not a dog no", e sim o Gui)? Aqui?". E essa pergunta vem no sentido do próximo tópico.

3 - Alta rotatividade da mesa

Vai dizer que naquela noite super divertidona, com papo esquizofrenico e inteligente, você nunca se deparou com gente sentando à mesa, tomando, falando umas asneiras e se levantando para 'encontrar, RAPIDINHO, um amigo ali.."; e o fdpdumafiga nunca mais retorna. Pois é, atentar para a teoria hino-do-flamengo: Uma vez sentado, sempre sentado. Sentado sempre há de ser! Principalmente se forem mulheres, bonitas, que os idiotas (eu e meus amigos) vão querer manter na mesa, e isso implica em mais garrafas, mais dinheiro , para nada **!

4 - Não achar que é o dono do bar

Ok, só para raros o bar. VocÊ sempre está lá às quintas e sábados. Marcou ponto. Tem sua mesa preferida, perto da janela. O dono do bar já te chama por apelido e sabe que você gosta da caipirinha, e começa a te oferecer tulipas grandes. Mas isso, caros amigos, não quer dizer que haverá desconto na conta; muito pelo contrário, afinal: amigo que é amigo paga mais do que 10% ao garçom (que nem existe no estabelecimento). Além da velha máxima: AMIGOS, AMIGOS. NEGÓCIOS À PARTE E MAIS 10% .

5 - Mulheres

Assim, meio descontextualizado em relação ao argumento empregado pelos especialistas em mesas de bar. Mas o que o Zé boça*** esquece de ensinar é que o prejuízo é multiplicado exponencialmente na razão direta de quantas mulheres estão à mesa. Porque, claro, as danadas bebem mas o suficiente para rir da cara dos idiotas, digo, amigos à mesa, estes amigos que pagarão (?) a conta, enquanto elas vão encontrar 'outros amigos ali na frente" ou "os pais delas estão esperando no carro", ou a arcaica expectativa de "quem paga é o homem". hehe


* Italo, eu vou pagar sua entrada no cultural

** Experiência é tudo o que se ganha, teorizou bem o Italo.

*** Eminente doutrinador do Direito, que está no 18º período, cursando Cantinologia!


Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Sentença



Ah, sempre me pedem para definir o Direito. Sempre caio naquela coisa prolixa, quando não piegas. Falo um pouco da minha ideologia, de ainda manter ideais, recaio sobre uma conversa sem fim; enquanto vejo gente usando tal ferramenta para fins, no mínimo, duvidosos. No entanto, a conversa do post não é muito essa. A introdução é para poder colar aqui palavras geniais e tocantes do mestre Ronald Dworkin, autor de um dos livros mais (des)consertantes do conceito de Direito, atualmente, "O império do Direito".


" O que é o Direito? Ofereço, agora, um tipo diferente de resposta. O Direito não é esgotado por nenhum catálogo de regras ou princípios, cada qual com seu próprio domínio sobre uma diferente esfera de comportamentos. Tampouco por alguma lista de autoridades com seus poderes sobre parte de nossas vidas. O império do Direito é definido pela atitude, não pelo território, o poder ou o processo. Estudamos essa atitude principalmente em tribunais de apelação, onde ela está disposta para a inspeção, mas deve ser onipresente em nossas vidas comuns se for para servir-nos bem, inclusive nos tribunais. É uma atitude interpretativa e auto-reflexiva, dirigida à política no mais amplo sentido. É uma atitude contestadora que torna todo cidadão responsável por imaginar quais são os compromissos públicos de sua sociedade com os princípios, e o que tais compromissos exigem em cada nova circunstância. O caráter contestador do Direito é confirmado, assim como é reconhecido o papel criativo das decisões privadas, pela retrospectiva da natureza judiciosa das decisões tomadas pelos tribunais, e também pelo pressuposto regulador de que, ainda que os juízes devam sempre ter a última palavra, sua palavra não será a melhor por essa razão. A atitude do Direito é construtiva: sua finalidade, no espírito interpretativo, é colocar o princípio acima da prática para mostrar o melhor caminho para um futuro melhor, mantendo a boa-fé com relação ao passado. É, por último, uma atitude fraterna, uma expressão de como somos unidos pela comunidade apesar de divididos por nossos projetos, interesses e convicções. Isto é, de qualquer forma, o que o Direito representa para nós: para as pessoas que queremos ser e para a comunidade que pretendemos ter".

E, nesse mesmo sentido, li em "O Lobo da Estepe", uma das melhores sentenças, proferida no Tribunal do Teatro Mágico, quando julgava-se um homicídio ocorrido naquela terra:

Meus senhores, em vossa presença está Harry Haller, acusado e julgado culpado de uso fraudulento de nosso teatro mágico. Harry não só ultrajou a arte sublime, confundindo nossa formosa casa de imagens com a chamada realidade, matando uma jovem ilusória com um punhal ilusório, como também demonstrou sua intenção de servir-se de nosso teatro como de uma máquina de suicídio, sem nenhum humor. Em consequência, condenamos o mencionado Sr. Haller à pena de vida eterna e à proibição por doze horas de entrar em nosso teatro. Tampouco poderemos perdoar ao condenado o castigo de lhe rirmos na cara. Senhores, todos junto: um, dois, três!
Ao três, todos os presentes prorromperam numa gargalhada unânime, uma gargalhada em coro elevado, uma gargalhada do além, dificilmente suportável pelos ouvidos humanos.

A genialidade da sentença vem justamente nisso: a vida eterna, o rir na cara. A proibição ao teatro mágico de todo dia, a proibição ao humor. Vai ver está faltando o riso 'na cara", o escracho, a crítica construtiva com humor. A inteligência confrontar a mesmice!

Seguindo o ensinamento, talvez a vida mostre mesmo aos donos e donas da verdade que a figura que hoje passou por um espantalho medonho e acabou por fazê-lo perder o jogo da vida, do cotidiano, poderá converter-se amanhã numa pobre figura secundária. E uma outra pobre figurinha, que parecia ainda há pouco viver sob a influência de uma estrela má, poderá converter-se no próximo jogo em uma princesa (princípe, para a leitora).

Enfim, desejo sempre muitas satisfações. E se for preciso, MUITAS RISADAS NA CARA!

"Quando a sentença se anuncia bruta,
a mão pesada logo executa.
Senão, o coração perdoa". (Chico Buarque)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Quem um dia irá dizer, que existe razão...

Inusitadamente, talvez, minhas palavras estão, de um tempo pra cá, caindo por terra uma atrás da outra. A cada dia mais me impressiono como eu estou engolindo tanta coisa que eu dizia nunca engolir, como eu estou mais impetuosa, e como eu estou sujeita a fatos e situações que eu, definitivamente, não pensava passar há um tempo não tão longinquo assim.

Não sei se foram novas experiências ou se foi um amadurecimento normal. Não sei se foi a distância, não sei se foi a saudade ou simplesmente o desejo de começar a faculdade. Não sei se foram amizades, ou se foi minha cabeça mesmo, se foi de verdade ou de mentira, se é ilusão ou realidade. Só sei que tento buscar explicação pra esses fatos.

Não que eu não esteja gostando, sim, estou. Quem não gostaria de se sentir bem, mais confiante? Só me pegou de surpresa, enfim. Não esperava de mim certas atitudes, certas decisões, certo poder e até autoridade. Não esperava também uma ingenuidade boba de criança, um brilho nos olhos, um coração disparado. Tudo bem, nova fase, vida nova. Mas que a essência se preserve!


“Quem, um dia, irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer, que não existe razão?”

domingo, 2 de agosto de 2009

Falou, avisou.




Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou: São trezentos picaretas com anel de doutor. Eles ficaram ofendidos com a afirmação que reflete na verdade o sentimento da nação. É lobby, é conchavo, é propina e "jeton". Variações do mesmo tema sem sair do tom, Brasília é uma ilha, eu falo porque eu sei. Uma cidade que fabrica sua própria lei, aonde se vive mais ou menos como na Disneylândia; se essa palhaçada fosse na Cinelândia, ia juntar muita gente pra pegar na saída.

Pra fazer justiça uma vez na vida, eu me vali deste discurso panfletário mas a minha burrice faz aniversário ao permitir que num país como o Brasil, ainda se obrigue a votar, por qualquer trocado, por um par de sapatos, um saco de farinha, a nossa imensa massa de iletrados. Parabéns, coronéis, vocês venceram outra vez. O congresso continua a serviço de vocês!

- Papai, quando eu crescer, eu quero ser anão pra roubar, renunciar, voltar na próxima eleição.

Se eu fosse dizer nomes, a canção era pequena: João Alves, Genebaldo, Humberto Lucena. De exemplo em exemplo aprendemos a lição: Ladrão que ajuda ladrão ainda recebe concessão! De rádio FM e de televisão. Rádio FM e televisão.


Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou.


As palavras são dos Paralamas; contudo, mais de 15 anos e a história é a mesma.



"Eu vejo o futuro repetir o passado. Eu vejo um museu de grandes novidades"