terça-feira, 31 de agosto de 2010

Minha namorada imaginária


Minha namorada imaginária não imagina que a sei tão perto e concreta; ou talvez saiba, porque minha namorada imaginária é intuitiva. Ela possui aquele sexto sentido de adivinhar o que preciso do primeiro ao sétimo dia da semana, durante os doze meses dos anos que emolduram nossas vidas.

Minha namorada imaginária mede menos que meu um metro e setenta e quatro, mas seu coração é um paradoxo: nesse pequeno corpo faz caber sentimentos maiores que dois ou três universos, um infinito de amor; sorte a minha. Ela possui a tonalidade de cabelos que ela imaginar, entretanto o mais importante são as idéias que proliferam no compartimento interior. Somos capazes de passar a sexta, o sábado, o domingo e adentrar a semana falando sobre tudo: política, cinema, demais artes, os vizinhos, a fofoca da tia, a tese da minha futura monografia, os anseios profissionais dela.

Minha namorada imaginária é alguém que me acompanhará nas compras do mês e sempre faz piada com a minha falta de tino para a organização da quantidade de compras; afinal método, ela tem. Além de rir jocosamente quando não consigo abotoar a manga da minha camisa.

Minha namorada imaginária é espirita, eu católico. Ambos respeitamos e gostamos de tentar compreender as demais religiões. Ouvimos de Chico Buarque a Los Hermanos, princiapalmente estes. Lemos Neruda e dedicamos frases de Quintana no domingo pela manhã.

Minha namorada imaginária é adorada pela sogra, meu sogro, ainda acho que consigo conquistar. Minha namorada imaginária veio há alguns anos, quando a chamei para compor a roda da família brugger - será que ela lembra? Os caminhos sempre nos levam ao ponto almejado. Minha namorada imaginária me reconheceu de pronto e permitiu que eu a conhecesse aos poucos.

Minha namorada imaginária é de fazer parar o trânsito, principalmente quando atravessa as ruas de forma desatenta, mania que vem tentando deixar de lado pelo bem de nossas vidas. Por outro lado, é uma motorista (im)prudente e demonstra perícia (dirige melhor que Eu. Não conte para ela).

Minha namorada imaginária não imagina que estou escrevendo sobre ela; ou talvez imagine, lembra-se da intuição dela? Minha namorada imaginária é linda, beleza de dentro para fora. Minha namorada imaginária conhece meus anseios. Minha namorada imaginária tem um sorriso capaz de parar uma guerra. Um cheirinho de me fazer dormir em seus braços. O jeito de me fazer sempre não parar de imaginar quando estarei, realmente, ao seu lado.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Das rápidas ironias da vida

Ok, vida, boa!

Eu que sou um dos teóricos, com toda a humildade e reverência necessárias aos que teorizam, das práticas amorosas racionais e da racionalização amorosa. Eu que teorizo sobre escolhas...nunca sou escolhido!

É, vamos todos rir no "3".

1,2....3!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Qualquer semelhança (não) é mera coincidência

Porque  praticamente quase resumiu uma certa história, um certo nazismo retórico:

O Amor (Tati Bernardi)

Semana passada liguei pro meu melhor amigo e convidei para um cinema. A gente não se falava desde o ano novo, quando tudo deu errado pro nosso lado. De tempos em tempos sumimos, falamos umas coisas horríveis de quem se conhece demais. Ele topou desde que fosse daqui pra frente, preguiça de conversar da briga e tal. E fomos. Cheguei antes, comprei. Ele chegou depois, comprou água. Porque eu comprei os ingressos, ele comprou também uns doces e disse que pagaria o estacionamento. Porque ele pagaria o estacionamento, eu disse que daria a carona da volta. E com meu coração tão calmo eu voltei a sentir o soninho de sofá de casa com manta que sinto ao lado dele. A gente não se beija nem nada, mas quando vai ver pegou na mão um do outro de tanto que se gosta e se cuida e se sabe. Já tivemos nossos tempos de transar e passar nervoso e aquela coisa toda de quem ama prematuramente. Mas evoluímos para esse amor que nem sei explicar. Ele me conta das meninas, eu conto dos caras. Eu acho engraçado quando ele fala “ah, enjoei, ela era meio sem assunto” e olha pra mim com saudade. Ele também ri quando eu digo “ah, ele não entendeu nada” e olho pra ele sabendo que ele também não entende, mas pelo menos não vai embora. Ou vai mas sempre volta. Não temos ciúmes e nem posse porque somos pra sempre. Ainda que ele case, more na Bósnia, são quase quinze anos. Somos pra sempre. Ele conta do filme que tá fazendo, eu do livro. Os mesmos há mil anos. Contar é sem pressa de acabar. Se ele me corta é como se a frase que eu fosse falar fosse mesmo dele. É um exibicionismo orgânico, como se meu silêncio pudesse continuar me vendendo como uma boa pessoa. São quinze anos. É isso. Ele me viu de cabelo amarelo enrolado. Eu lembro dele gordinho e mais baixo. Ele sempre comprou meus testes de gravidez, mesmo a suspeita nunca sendo nossa. Eu já fui bem bonita numa festa só porque ele queria me fazer de namorada peituda pra provocar a ex mulher. Minha maior tristeza é que todo novo amor que eu arrumo vem sempre com algum velho amor tão longo e bonito. E eu sofro porque com pouco tempo não consigo ser melhor que o muito tempo. E de sofrer assim e enlouquecer assim, nunca dou tempo de ser muito para esses amores porque estrago antes. Mas meu melhor amigo é meu único amor. O único que consegui. Porque ele sempre volta. E meu coração fica calmo. E ele vai comigo na pizzaria e todos meus amigos novos morrem de rir porque ele é naturalmente engraçado e gente boa e sabe todos os assuntos do mundo. E todo mundo adora meu melhor amigo. E eu amo ele. E sempre acabamos suspirando aliviados "alguém é bobo como eu, alguém tem esse humor" e mais uma vez rimos da piada que inventamos, do pai que chega pro filho e fala: sua mãe não é sua mãe, eu transei com outra". E esse é meu presente dessa fase tão terrível de gente indo embora. Quem tem que ficar, fica.

sábado, 7 de agosto de 2010

Sonhos de Agosto

"Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir,dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus, fica a suspeita de sinistros angúrios , premonições.Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade."

 É você, romântica como sonhado, mais sexy que o imaginado. Somos eu e você em um passeio de carro por uma cidade sulista, visto o frio e a nossa tentativa de qualquer comentário sobre a arquitetura do lugar. Você linda, (com seu) sobretudo.

É você sugerindo o café e sentando como sempre se assenta em cadeiras (de bar, de praia, de qualquer lugar). Sou aceitando o calor, não do café, mas das suas mãos nos meus ombros, encaixe perfeito - todo mundo diz.

Somos nós dois viajando sozinhos como eu sempre quis. A descoberta do óbvio de tantos anos, "feitos para durar, uma luz que não produz sombras. Somos o que há de melhor, somos o que dá para fazer". Falamos de sinas -as nossas, que sempre foram se ensinar -, aquele papo de apontar para a fé e remar, frases do quilate de 'devíamos ter feito isso há muito tempo", pedir mais um pedaço desse bolo delicioso, mais uma das nossas conversas de horas, planos que deram certo ou não, darão ou não. A promessa do nosso "para sempre", poucas pessoas conseguem isso. A gente consegue, de alguma forma.

Somos nós dois no quarto. O Ir-Remediável. Remediável para toda dor de uma vida. Piadas internas. Mundo aberto. Soma de duas metades. Afinal, se não tem nada para depois, por quê não eu?

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Das coisas que eu queria ouvir II

“Acho que você não percebeu que o meu sorriso era sincero”. Quero acreditar ser essa a única explicação. Buscava em você, incessantemente, teus sinais de interesse. Buscava olhares que brilhavam, abraços mais longos, despedidas mais efusivas. Buscava em você uma parte que eu queria pra mim, que me acompanhasse no sufoco, no sossego. Eu buscava você. Não buscava uma figura qualquer, uma pessoa sem nome, um personagem de um filme. O que eu queria era ter você por perto. Mas você não percebeu a minha sinceridade. Ou percebeu e a ignorou. E se o fez não posso te culpar. Não posso querer que você assuma um papel que não quer, não posso querer que se sinta da mesma forma.

Posso me questionar de porque não sei lidar com isso. Posso me questionar o porque de ter que ser você. Posso me questionar do porque não consigo dar o próximo passo, seguir. Seguir em frente ou para os lados, seguir por qualquer direção. Não o faço. Por que estacionei, parei por aqui? Há algo mais nisso tudo. Há alguma coisa que ainda me faz sorrir ao te ver, que ainda me faz querer prever seus passos. Há algo em mim que não quer te deixar para trás. Que quer seguir, mas que insiste em ter você como companhia. “Quem sabe isso quer dizer amor?”