terça-feira, 25 de outubro de 2011

Refrão de Bolero

Originalmente postado no Agravo de Instrumento.

Nós poderíamos ser amantes que bebem champanhe pela manhã aos beijos num hotel em Paris; é o que o Caio Fernando está dizendo aqui e eu concordo. Nós poderíamos ser tantas coisas.


Nós poderíamos ser os melhores amigos apaixonados, os melhores cúmplices de viagens à lua dentro do nosso quarto (ou da sala, por quê não?). Poderíamos ser os caminhantes-de-mãos-dadas daquela praia de areia branca de Cabo Frio ou litoral paulista ou qualquer outra praia maravilhosa (mas que, de fato, não seria tão maravilhosa quanto você. Seria apenas moldura). Nós poderíamos ser autores daquele crime perfeito. Poderíamos ser a capa de jornal, melhor: capa de livro de romance bem sucedido no século XXI, quando todos desacreditam de romance-amor.


Poderíamos. Sucumbimos ao mal do século: "não quero me envolver pessoalmente com ninguém".  É que eu fui realmente sincero como não se pode ser e, talvez, por isso eu te afugente tanto. Você corre de um abraço de braço só que te envolve, porque no outro braço está seguro o mundo prontinho para te entregar. Você se nega, afinal, com tanta facilidade é bem mais fácil escolher sofrer, realmente. É mais fácil ser triste.


Me perco ainda nos nossos planos, não tanto quanto me perdia em nossos beijos. Queria a possibilidade produzindo efeitos. Me cansa esse "quase" de toda hora ter que contar os minutos pelo teu regresso. Ainda me bate a esperança ver-te atravessar a porta e dizer: "Vida minha és Tu".

Adivinhe, você. Eu que não bebo, estou aqui nesse bar. Bar nosso, lembra? Falando com o Ceará, aquele garçom que viu nosso primeiro beijo. A noite vem chegando, eu tenho que ir para casa. A nossa, também está lembrada?

Antes, ardia à noite. Agora, adio o dia.



Coração na mão como um refrão de um bolero
Eu fui sincero como não se pode ser.
Um erro assim, tão vulgar, nos persegue a noite inteira
E quando acaba a bebedeira ele consegue nos achar num bar
Com um vinho barato, um cigarro no cinzeiro
E uma cara embriagada no espelho do banheiro
(Refrão de um bolero - Engenheiros do Hawaii)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Nota Curta Sobre Expressões Grandiloquentes

Eu pensei em postar algum texto quanto ao Orlando Silva ser suspeito de propina, deixei pra lá (cada um lê por si e também espera a investigação começar e concluir o que supostamente houve). Pensei também em falar sobre a campanha de desenhos no avatar do facebook, achei bacana e tal, mas também não quis polemizar com os reacionários gratuitos de plantão. Pensei em escrever sobre a acefalia generalizada dos membros que sigo no facebook e twitter, salvo exceções especiais, que meteram o ferro na Globo por não "mostrar o Pan-Americano", sendo que os direitos são exclusivos da Record (sim, existe outra emissora que não a Globo), mas deu preguiça de desenvolver isso tudo. Pois é, como diz o Gessinger parafraseando Machado de Assis: Estou com tédio à polêmica.
Então, eu vim contar da última conversa de bar ou da última filosofia de colo. Objeto: são expressões grandiloquentes como 'para sempre' e ' nunca mais'. Expressões ditas em segundos que querem ilustrar uma vida ou até mais (para quem crê).
E aí que eu relativizo isso tudo. Já vi o mundo desabafar infinitas vezes e depois novas paisagens brotarem, serem desenhadas. Vi o furacão no horizonte chegar como brisa de mar em dia de calor-quarenta-graus-em-maceió. É o tal do tempo, que nem sempre temos. Nem sempre temos o próprio ou a parceira dele, a dona Paciência.
Tenho usado pouco o "nunca mais" e o "pra sempre". "Nunca mais" cai em questão de segundos, horas, anos, atitudes. Principalmente pelas últimas. Já pensei que nunca mais falaria com a minha parceira de blog e agora ela está "para sempre" na memória em ritmo de valsa. Diz aí.
"Nunca mais" é forte demais para sentenciar nessa vida. Estamos em eterno progresso. O "agora não é hora", esse sim, existe. Questão de harmonizar. Ah, esse verbo que chegou para colorir ideias. Harmonizar. O que harmoniza tem força! 
Temos que ter cuidado com os "nunca mais", tão sedutores para nossa natureza de perdições e procurar-achar motivos para não ir à luta! Milagres acontecem quando a gente vai à luta!
E o que dizer sobre os "pra sempre"? Sempre acabam? Não acho. Acredito que a gente consegue adormecer sentimentos, de acordo com o velho binômio conveniência-oportunidade. Tenho dormido, acordado, sonhado amor há 7 anos. Questão de vibrar amor, questão de vivenciar e deixar tomar conta. Velha estória de uma ideia que existe na cabeça e não tem a menor obrigação de acontecer. Que bom seria se acontecesse, óbvio. Mas dormir e acordar. Sonhar. Realizar. E ai, acreditar em "pra sempre"? Sim. De janeiro a janeiro até o mundo acabar
Ainda nesse ínterim, me perguntaram também sobre minha crença, intacta, já adianto, de abnegação de corpos outros, que não o "da amada", aos vinte e três anos, quase vinte e quatro. Sim, mil vezes, sem pensar duas vezes. A maturidade também trouxe velhas crenças que eu não tenho medo de reafirmar. Bancaria, sim, o Frejat, desejaria todo dia a mesma mulher e "pra sempre".
Como transigir entre o "nunca mais" e o "pra sempre"? Com calma e tendo fé naquela coisa do Caio F. "Acontece que entre o ainda-não-é-hora e Nossa-Hora-Chegou muita gente se perde. Não se perca, viu?". Força e Fé. Teoria do Porta-Avião, aquele pouso na hora certa, quando tem razão e motivos para pousar.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Um passo atrás, por Amor ou Sobre Processos de Esperas

A última filosofia que mereceu copos de uísque (assim mesmo, prefiro essa grafia) foi a questão do "até quando lutar? Até quando declarar?". Pano pra manga e quase uma garrafa para dois caras na faixa dos vinte e poucos tentando entender disso. Pois é, amar é, sim, caros amigos, coisa de Homem.

Pois então, a questão toda era o "clássico" caso de você sentir algo bastante forte, que você reputa com força de eterno, mas não sabe como dizer para a pessoa "alvo" desse sentimento bonito todo.
Destacamos três correntes, claro. A primeira é a mais complicada, no meu ponto de vista, porque é aquela em que você tem impedimentos fortes de ser mais, digamos, incisivo. Seja porque isso acarreta mexer em outras relações que você já estabeleceu com a pessoa , seja porque interfere no âmbito da vida de terceiros (diz a moral que mesmo no caso de você se apaixonar pela namorada do coleguinha, você não deve interferir. Eu relativizo: SALVO se a moça também sentir algo por você, mas aí vocês têm que dar jeito do amigo estar ciente da situação toda e ter MUITO cuidado). Amizade ainda é, e acredito que sempre será, melhor do que o amor romântico. Talvez seja por isso que no meu projeto de mulher ideal há essa combinação amor romântico - cumplicidade amistosa.

A segunda corrente é a dos que o mestre Guilherme Schettini chamou dos "abençoados", os que jogam livres nesse campo da vida. Isto é, aqueles que não tem absolutamente nada a perder. Porque aqueles a quem amam não são seus/suas melhores amigos/amigas, não são a namorada do coleguinha, não possuem quaisquer outros impedimentos fortes. A esses, o Universo concedeu a ideia de "chuta pro gol, meu filho, vai quê?". Pois é, abençoados sejam esses, que podem dar a cara a tapa, a boca a beijo e o coração ao amor.
 É de se entregar ao viver, é preciso tirar a sorte para ter. 

A terceira corrente remete a teoria mista (ah, vá!), posto que a situação é anômala, você pode até ser incisivo porque o nível de intimidade te permite, mas você é receoso, apesar de ficar rezando todo santo dia para ter aquela chance de se declarar e a pessoa estar preparada para receber; ou você tem a sorte da pessoa ler esse glorioso blog e, PASME, oras, estamos no campo da imaginação, da hipótese, então, PASME, a pessoa concorda com a teoria da "transferência" (diz ai Ana Luiza!), que a gente pode, sim, aprender a amar alguém, mesmo que não exista aquela coisa de "paixão arrebatadora", ganha-se em relação e cumplicidades construídas, mais uma pitada de admiração e atração e tem-se o tal do relacionamento forte. Parece simples, mas às vezes a gente é. A questão toda é que como diz o Caio F.: aos que ainda tentam, aos que esperam a volta do grande amor, Deus põe teu olhar mais luminoso.

 Escolha a sua e seja feliz. Acaba que pessoalmente eu abro mão de recursos, talvez porque o interesse de agir não seja mais tanto meu. Aquele velho amadurecimento de você saber que vai somando pontos, mas a outra pessoa tem o direito de não te querer ou de ainda não ter descoberto que você é o grande amor da vida dela (bom humor, a salvação do mundo!). Porém, a minha teoria é que você realmente tem que fazer sua parte, geralmente é desperdício de energia ficar recorrendo das decisões; se a pessoa quiser mudar o mérito por conta própria, porque, por exemplo, descobriu fatos novos (ela te ama), ela que exerça aquela ação rescisória de leve. E se não couber? Sei que a pessoa correrá atrás e vai aplicar uma teoria alternativa de relativização da coisa julgada. Quando queremos, damos um jeito! O cuidado é todo na questão da sentença do mérito ter efeitos ex nunc, entendam a periculosidade da piada!

Quem me conhece sabe que tenho tendência a abrandar as coisas. Por isso, eu agradeço tanto ao processo civil brasileiro ser fundado no Liebman. À grosso modo, ele diz que para haver ação, esta tem que preencher alguns requisitos: legitimidade de partes, possibilidade jurídica do pedido e interesse de agir.  No caso concreto, as partes foram e são legítimas, capazes, esclarecidas, bem intencionadas. A questão toda foi que talvez não seja possível o pedido, quem sabe a ordem das coisas não normatizem esse tipo de relação ou, ainda, falte previsão de em que termos as relações pretéritas ficariam abaladas e/ou evoluiriam para um ponto melhor. Ainda há a hipótese mais plausível, não houve interesse de agir nesse momento, questão de tempo. A lei vigente ao tempo do ato rege o tipo, não é assim? Aqui é: A Lei do Tempo rege os Atos. A vantagem? É que segundo o Liebman, ausentes as condições da ação, parece-me que, PARA ELE, não haveria ação, a sentença é terminativa, podendo a ação, com mesmo objeto, ser proposta novamente, visto que houve coisa julgada meramente formal. Isto significa um entendimento mais brando que o julgamento de mérito da tese anterior. Se a pessoa quer te dar uma chance, ou descobriu que te ama ou os dois juntos, ela vai atrás e recomeça o procedimento. Sim, a vida tem essas coisas de o mundo girar mesmo. Viva o Liebman, viva a ainda não aprovação do novo código de processo civil e viva a minha fartura de tempo para fazer umas análises dessas para nossas vidas. 
É que na falta de algo melhor, nunca me faltou raciocínio. Quanto a se devem esperar e o quanto devem? Cada um com a sua doutrina (mais do que respostas, o importante é a reflexão). Termino com Caio Fernando, novamente: "Acontece que entre o ainda-não-é-hora e nossa-hora-chegou, muita gente se perde. Não se perca, viu?", tá?!

domingo, 2 de outubro de 2011

Fala comigo! (Ou sobre os silêncios)

E lá se vão mais algumas tardes de um silêncio que diz pouco (ou muito ou muito pouco).
A questão é essa minha incapacidade de entender silêncios. Me dê uma linha de crédito nessa. Eu trabalho com palavras, teses, dissertações, discussões, petições, sentenças, agravos. Silenciar é romper com o que meu lado habermasiano mais aprecia: a deliberação.
Você deveria saber que não sou de entender silêncios, principalmente quando parte da doutrina diz que isso é anuência tácita e a outra parte, majoritária, diz que é eloquente protesto contrário. Eu nunca fui bom em entender sinais silenciosos, preciso de placas, gritos, dedos em riste ou abraços em concordância. Dê um sinal, dê um final.
Tenho visto muita gente silenciar, quando eu ando aconselhando o falar. Todos que convivem comigo sabem que por vezes eu falo até demais, declaro, digo o que quero e espero; geralmente a prece não acontece em plenitude, mas tento manter aquela postura de homem-feito-maduro-que-muito-já-aprendeu e acredito que é a melhor forma, aquelas coisas Paulo Coelho de que o universo conspira a favor.  Mas estritamente pelas circunstâncias fico quieto, tranquilo, deixo o tempo passar. Contradição? Não, apenas jeito de sobrevi(te)ver.
Devem ser aqueles power points antigos que ainda ecoam na minha fase adulta; provavelmente a lembrança do "não arriscar é desperdiçar chance de merecer"; virou mote, tem sido esse o princípio fundamental do meu agir estratégico. Não banco o bonzinho, nem o ético, defendo a minha tese. É, pelo menos eu falo.
E esse teu silêncio que permanece? Cansaço? Já sabe de tudo isso e aquilo? Então, solta essa língua, morde, grita, pense alto, fale qualquer coisa como nunca-te-quis ou sempre-te-quis-mas-você-não-vem ou ainda-não-estou-pronta ou sempre-soube-que-era-você, mas quebre o silêncio, vai, fala comigo.