segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Hoje, eu fui te visitar

"Há uma maneira de ser bom de novo" ( O Caçador de Pipas)


É segunda-feira de Carnaval. Após a minha folia de ontem, fui cumprir a tarefa para a qual tenho me preparado há 6 meses.

Foi estranho entrar naquele local e te ver pálida, embora você seja branquinha. Ver você lá, como você dizia antes, "loira e linda", ainda mantendo aquela boa aparência física, mas te ver tão ausente mentalmente. Ver você, minha amiga, minha confidente por tantos anos, naquela roupa branca, com remédio controlado. Acredito que valeu a pena o processo trabalhado. Você errou, como muitos tem errado. Mas é aquela velha história de segunda chance.

Como te falei, você passou por um processo judicial, mas principalmente...um processo de vida. Você, após essa internação e desentoxicação, tem que voltar forte, vencendo a batalha dia a dia. Não culpe o desinteresse inicial dos teus pais, eles também estavam cansados da batalha. Te juro que sua mãe me ligava diariamente, não só pelo suporte jurídico; ela queria, na verdade, me ouvir dizer que fora esse problema de dependência química da filha dela, essa era uma criatura divina. Boa moça, educadíssima, uma beleza sem igual, inteligente, esperta, mas que flertou com o perigoso mundo dos vícios e sucumbiu.

Te vendo nessa visita, lembrei ironicamente do "Meu nome não é Johnny" e da frase espirituosa e pontual daquela juíza: "O nosso verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que repousamos nosso primeiro olhar inteligente sobre nós mesmos". Quero dizer, RENASÇA! Você tem um potencial gigante ainda. Lenha para queimar e iluminar muita gente. As possibilidades são infinitas. Não te neguei, nem negarei. Se quer saber, gosto de ser amigo de gente assim...HUMANA.

Li um texto um tempo atrás, pensei em você. É mais ou menos assim:

Se eu pudesse escolher um verbo hoje, escolheria o verbo acreditar. Assim, conjugado na primeira pessoa do singular: eu acredito. Acredito no sonho. No tempo. Na força. Nas palavras. Acredito em mim. Em você. E neles (que eu nem sei quem são). Eu acredito no desejo. No amor. Na interrogação que não questiona. Eu acredito nas pessoas. Na sua pessoa. Na sua nada-perfeita pessoa. Eu acredito que nem tudo está perdido. Que a solidão não se segue à sós. Que coincidências existem. E que nem tudo sai como a gente espera. Eu acredito na saudade. Na vontade. No refrão. Na rima. E no coração. Acredito no beijo. No abraço. No silêncio. Acredito no olhar. Na manhã. E no amanhã. Acredito na mudança. Na esperança. E na doce-lembrança. Acredito no vento. No céu. Nas estrelas. No mar. Acredito que é sempre melhor deixar rolar. Acredito - sim! - que o que é nosso sempre fica. Que o que fica nunca vai.

E, se vai, sempre volta. Acredito que só aprendemos quando erramos, mas nem sempre que erramos aprendemos. Eu acredito no sorriso. No pedido. Na tentativa. Na superação. Acredito que nunca é tarde. Que nos fazemos firmes conforme as experiências. E que viver não perdeu a graça. E, por mais que doa, eu ainda acredito. Sempre. É assim que eu me faço forte, é assim que eu crio coragem pra desafiar a razão: acreditando.

Hoje, eu te visitei. Espero ver-te inteira daqui um tempo, Moça. 
E como a gente dizia: um beijo, minha benção, minha amiga!

Um comentário:

  1. Lindo! Lindo o texto, lindo o dono do texto! Humano, profundo, sutil, discreto e universal. Ler seu blog, remete-me a leitura de mim mesma... fragmentado(a), persistente, nem sempre contente, com uma doçura que insiste em permanecer presente, ao acaso. E logo hoje, quarta-feira de cinzas em que pensava em te mandar um poema, mas vai mesmo assim: "À primeira esquina, encontro uma cara oca, um cara sem cara... / O melhor, o melhor é voltar, o quanto antes, para o quarto. Com o máximo cuidado de não olhar, acaso, para o espelho." (Mário Quintana)
    Esse carnaval meu amigo, serviu para mais uma descoberta, mais um encontro: comigo mesma. É irônico pensar que meu mais terrível monstro habita e me espera em cada hesitação... mas tive o êxito de mais uma vez guardá-lo a salvo... a salvo de mim mesma.

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