domingo, 7 de fevereiro de 2010

Por que é que tem que ser assim?

Pra que tanta confusão, me explica? Não sei onde começa, agora, sei bem onde termina.

Foram anos e anos moldando Barros, brincando de argila. Ou era eu a moldada? Quando foi que me misturei a ponto de não saber separar é um ponto que bem o sei. Era forte o calor do fogo. A massa estava boa, tinha a forma certa. Era só deixar queimar e então estava pronto. Foi feito com carinho. Ficou dentro dos conformes. Enquanto esfriava, alguém mexeu e deformou. Tudo bem, ainda era o mesmo vaso. Ele ficou ali, no canto dele. As vezes nem tão quieto como devia. Mas foi servindo apenas para enfeitar a prateleira.

Tinha também o Marfim. Que brincava comigo, apesar de sempre tão duro. Inflexível, nunca dava o braço a torcer. Eu sempre mais maleável, levava aquela situação complicada a frente, era legal andar com o marfim. Ficava ali no canto também. Nem tão perto do vaso de barro, podia quebrá-lo. Ele tão frágil...

Um belo dia a peça de marfim bateu o pé, discutimos feio... Disse que ia retirá-la da estante, afinal, não havia mais espaço pra ela ali. Mas sempre buscando o lado bom, deixei que o tempo corresse para que tudo se ajeitasse. Fingi de boba, de esquecida. Deixei ali. A peça de marfim, o vaso de barro.

Por que subestimar, não é? A bendita da peça não se esqueceu. Se jogou sobre o vaso que estava também já na beiradinha. Caíram os dois da estante. Tão alto eram as prateleiras que se encontravam, devido a sua relevância para a estante, que quando caíram se quebraram em mil pedaços. Irrecuperável.

Tudo se machucou, até o chão onde eles caíram. Juntos. A estante sentia um vazio intenso. Ninguém acreditava no que tinha acontecido. Dois preciosos, destroçados assim.

A magoa se fez maior ainda por estar a estante a ponto de receber novo enfeite. Era um(a) Vela. Desejada, ardentemente desejada. Estava pronta, faltava acender. Só acender.

Mas tamanho foi o estrago que agora, não se sabe se a estante está pronta, ou mesmo se a Vela quer se arriscar.

2 comentários:

  1. Tha, então tente ao invés da vela se arriscar...que VOCÊ risque a Vela! ;D

    Maravilhoso texto. Irônico, conciso e hermético!

    Certamente o texto que mais fez jus ao nosso blog até hoje!

    beijoos

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  2. Eu barro, ele marfim.

    belo blog, voltarei sempre que puder :*

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