domingo, 2 de outubro de 2011

Fala comigo! (Ou sobre os silêncios)

E lá se vão mais algumas tardes de um silêncio que diz pouco (ou muito ou muito pouco).
A questão é essa minha incapacidade de entender silêncios. Me dê uma linha de crédito nessa. Eu trabalho com palavras, teses, dissertações, discussões, petições, sentenças, agravos. Silenciar é romper com o que meu lado habermasiano mais aprecia: a deliberação.
Você deveria saber que não sou de entender silêncios, principalmente quando parte da doutrina diz que isso é anuência tácita e a outra parte, majoritária, diz que é eloquente protesto contrário. Eu nunca fui bom em entender sinais silenciosos, preciso de placas, gritos, dedos em riste ou abraços em concordância. Dê um sinal, dê um final.
Tenho visto muita gente silenciar, quando eu ando aconselhando o falar. Todos que convivem comigo sabem que por vezes eu falo até demais, declaro, digo o que quero e espero; geralmente a prece não acontece em plenitude, mas tento manter aquela postura de homem-feito-maduro-que-muito-já-aprendeu e acredito que é a melhor forma, aquelas coisas Paulo Coelho de que o universo conspira a favor.  Mas estritamente pelas circunstâncias fico quieto, tranquilo, deixo o tempo passar. Contradição? Não, apenas jeito de sobrevi(te)ver.
Devem ser aqueles power points antigos que ainda ecoam na minha fase adulta; provavelmente a lembrança do "não arriscar é desperdiçar chance de merecer"; virou mote, tem sido esse o princípio fundamental do meu agir estratégico. Não banco o bonzinho, nem o ético, defendo a minha tese. É, pelo menos eu falo.
E esse teu silêncio que permanece? Cansaço? Já sabe de tudo isso e aquilo? Então, solta essa língua, morde, grita, pense alto, fale qualquer coisa como nunca-te-quis ou sempre-te-quis-mas-você-não-vem ou ainda-não-estou-pronta ou sempre-soube-que-era-você, mas quebre o silêncio, vai, fala comigo.

2 comentários:

  1. E esse silêncio que permanece.....cansaço...é, pode ser...talvez já saiba de tudo isso e aquilo....como soltar minha lingua se cortaram minhas cordas vocais? Só o coração grita, mas esse ninguém escuta, principalmente o destinatário dos gritos desesperados. O que fazer?

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