domingo, 5 de setembro de 2010

Nas curvas da Highway

Eu realmente achava que seria som dissipado com voz, guitarra, contrabaixo, teclado e bateria transformados em boa música de uma das minhas bandas preferidas. Seria rever histórias minhas através de letras e melodias. Seria apenas a constatação da hipocrisia fazendo reino e mais uma frustração em relação a mais uma que não consegue o ir além, que não consegue chegar até mim para ver com os próprios olhos.

Mas a vida, já dizia o célebre Joseph Klimber, a vida é uma caixinha de surpresas. Eu começava a acreditar que na boca, ao invés do beijo, seria nem o chicle de menta; apenas a bebida e a sombra de um sorriso imaginado. Contudo, volto às surpresas. Por cerca de 5 horas eu esqueci de tudo. Da OAB, do mestrado, da monitoria, do grupo de estudos, das 9 matérias, do positivismo, dos artigos, dos trabalhos, provas, teste de verificação de presença, leituras por fazer, do que quero ser quando crescer, para apenas ouvir som de vozes de quem sabe viver. Tudo isso através de uma simples pergunta: "você gosta mesmo da banda?" e uma simples resposta com sorriso: "sou viciada".

E aí, como um vício bom, que por isso se torna uma virtude, toda a tensão da semana de um discurso de justificação de ações morais preparado para explicar o que fui, quem sou e quem pretendo ser foi parar na lata de lixo mais próxima. Aquelas palavras pronunciadas rapidamente de alguém que fala sobre algo que realmente ama me fez ter a seguinte constatação: Sem ensaio nem rascunho. O caminho a gente faz andando. Andando para frente, claro. E, de repente, não mais do que repente, eu tinha a sensação de que "conheci uma guria que eu já conhecia, de outros carnavais, com outras fantasias". E falamos de Engenheiros-Nando Reis - Ultimo show do nando que ela não foi, ultimo show dos Engenheiros que ambos estávamos lá - Direito - Arquitetura -Virar noite - Projetos, e ai eu me peguei sorrindo desarmado como há muito tempo não acontecia. Um cheiro da paz risonha do encontro que é bom. E, sei lá, piegas como sempre, eu acho que ela tem cheiro de flor quando sorri. 

E não rolou nada, digamos, físico. Foram outras frequências. E talvez seja por isso que falo de desarmamento de sorrisos tranquilos. E descobri a diferença brutal entre um Arquiteto e um Engenheiro Civil. Afinal, o primeiro, no caso a primeira, pensa. E também houve algo sobre intercâmbio. E foi ai que percebi que não é preciso viajar necessariamente fisicamente para descobrir novos mundos. E até minha velha casa, o Cultural Bar, ficou diferente. Afinal, eu nunca havia reparado no teto do cultural, e nem o design em curva ali do canto do bar. No meio das defesas todas, eu não sabia como me defender, não conseguiria, ainda que tentasse; e agora estou eu escrevendo sem ter a mínima noção se vou publicar. É porque havia troca, troca é quando duas vidas se sentem olhadas ao mesmo tempo. Havia algo que fazia um coração falar com o outro, ouvir o que era dito, gostar do que era dito, rir com o que era dito, sentir-se espelhado, sentir-se enternecido, querer brincar, muito além do que qualquer palavra, por qualquer motivo, por qualquer defesa, tentasse, em vão, esclarecer. Uma vontade de parar todos os relógios do mundo para eternizar a dádiva da presença compartilhada, e a impressão de que às vezes até conseguíamos.

E a banda cantou "teus lábios são labirintos, ana". Eu quis completar com a primeira parte do nome, mas eu consegui controlar meu instinto de fazer piadinhas forçadas. E até agora não sei como fiz isso. Quem me conhece, sabe: Tenho a incrível capacidade de parecer idiota em momentos assim. Eu nem precisei do conhaque para me livrar do inverno que entrava pela porta que "você" deixou aberta ao sair. Você? Quem? Era algo assim que fazia falta, talvez; ou certamente. Algo que inaugura primavera, tanto faz se é inverno

O mais incrível é que não sei se haverá continuidade. Porém, não importa se só tocam o primeiro acorde da canção, a gente escreve o resto em linhas tortas nas portas da percepção, em paredes de banheiro, nas folhas que o outono leva ao chão, em livros de história seremos a memória dos dias que virão (se é que eles virão).Não importam se só tocam o primeiro verso da canção,a gente escreve o resto sem muita pressa, com muita precisão.

No meio das defesas todas, havia algo que não se defendia, não sabia como se defender, não conseguiria, ainda que tentasse. E vamos em frente, o mundo fica para outro dia.

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