sábado, 5 de dezembro de 2009

Do Nilismo..


Nilismo é aquela corrente filósofica em que o Homem acredita que não há "nada além". E se não há nada além, fica sempre aquela vontade-esperança de olhar o que passou.

Daí vem a espera por você na janela ou a descoberta da mania que aquela minha amiga tem de olhar as fotos ulteriores na contra-capa do caderno.

Não adianta, "não é que eu queira reviver nenhum passado, nem revirar os sentimentos revirados", mas é que quando a tempestade se aproxima no alto-mar, a gente quer mais o porto com dois barcos lado a lado.

Desculpas, minha amiga, por ter falado "fim de carreira". Hoje, eu acho que percebo que é mais um 'ainda é possível encontrar algo assim ou melhor, novamente!".

Mea Culpa num dia chuvoso de desculpas e pensamento de O QUE É QUE EU ESTOU FAZENDO AQUI? Apontar pra fé e remar não tem dado jeito, não com esse cansaço de fim de período, de ano, de saco!

A pergunta é feita, com aquela vã esperança de obter a resposta satisfatória. Sempre tem um motivo, uma luz fraca, quase invisível, que a sensação te traz de volta à busca pelo por vir. Não faz sentido, eu sei. E se nada faz sentido, há muito o que fazer!



ELA - Campo ou bosque ou deserto, qualquer coisa assim, compreende? O importante é que seja ao ar livre. Colabora, imagina. É só um teste.
EU - Um deserto, então.
ELA - Sem nada?
EU - Nada.
ELA - Mas nem uma palmeira?
EU - Nenhuma.
ELA - Um rio, qualquer coisa?
EU - Nada. Só areia.
ELA - E árvores?
EU - Nada.
ELA - Bichos?
EU - Nada.
ELA - Vento?
EU - Nada.
ELA - Água?
EU - Nada.
ELA - E a chave?
EU - Não encontro chave.
ELA - E o muro?
EU - Muro tem.
ELA - E como é o muro?
EU - Antigo, feio, todo descascado, tijolos aparecendo, um pouco de limo, enorme.
ELA - Você sobe?
EU - Tento subir. Várias vezes. Mas caio, arranho os pulsos, sai sangue. Dói muito. Sempre tento subir, sempre caio outra vez. Mas sei que um dia eu consigo.
ELA - E depois?
EU - Depois o quê?
ELA - Depois do muro, o que tem?
EU - Nada.
ELA - Nada?
EU - Absolutamente nada.
ELA - E você o que faz, no nada?
EU - Não sei, me desintegro, acho.
ELA - E não dói?
EU - Não. Não dói.
(silêncio)
ELA - Você já tentou suicídio alguma vez?
EU - Três, por quê?
ELA - O muro que você tenta subir. O muro é a morte.
EU - Ah.
(silêncio)
ELA - Você agora vai-me achar piegas, mas deixa eu perguntar.
EU - Pergunte.
ELA - Você não acredita em amor?
EU - Acho que não. Como é que você sabe?
ELA - Não existe água. A água é o amor.
EU - Ah. Que mais?
ELA - Nada.
EU - Nada?
ELA - É. Nada. Você não acredita em nada. Acha tudo estéril. Vazio. Seco. Um deserto. Nem problemas você tem.
EU - Problemas?
ELA - É. Os bichos.
EU - Ah.
ELA - Nem ideais. Com o perdão da palavra.
EU - Ideais?
ELA - É. As árvores.
EU - E daí?
ELA - Daí, nada.
(silêncio)
EU - Pronto: mergulhou no silêncio ocêanico.
(silêncio)
ELA - Você não passa dum niilista. O diaboé que eu gosto de você paca.

O Caio F. dando a razão, novamente!

5 comentários:

  1. "Olha você e diz que não
    Vive a esconder o coração

    Não faz isso, amigo
    Já se sabe que você
    Só procura abrigo
    Mas não deixa ninguém ver
    Por que será?"

    - eu que já não quero mais ser um vencedor.. levo a vida devagar pra não faltar amor...

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  2. relaxa, filho...
    não tem deserto, não tem amor ou morte, ou árvore ou imginação, nada disso, nesse momento o que tem chama FIM DE ANO.
    beijoss

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  3. "Senta aqui, que hoje eu quero te falar..." ;)

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  4. Caramba...
    estava fazendo umas pesquisas e vim parar aqui, e adorei este texto.
    Parabens e espero que este tempo todo sem fala seja para trazer mais prazeres.
    Bjinhos

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  5. Fantástico, e pensar que eu estava procurando referências para o termo "Nilismo" Acabei encontrando muito mais do que desejava, gostei!
    lo-ve-ly.blogspot.com

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