quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Palavreado

“Pegadinha do Malandro”. Foi a primeira coisa que veio na minha mente ao ler essa noticia na Folha de São Paulo essa semana.

Depois do vestibular para Direito, as palavras jurídicas têm estado muito mais presentes no meu dia-a-dia. Na verdade, acho que a minha percepção para elas é que aumentou (e muito, diga-se de passagem), e, portanto, qualquer hora que vejo a palavra “juiz” ou “processo” ou outras deste campo, eu paro para ver de que se trata. Pois bem. Eis que no referido jornal, eu leio o título: “Juiz chama "BBBs" de "gostosas" em sentença”. Tive que parar para ler... E olha com o que me deparei:

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03/02/2009 - 09h13
Juiz chama "BBBs" de "gostosas" em sentença
da Folha de S.Paulo, no Rio

Assistir às "gostosas" do "Big Brother Brasil" foi uma das justificativas de um juiz do Rio para dar ganho de causa a um homem que ficou meses sem poder ver televisão. O juiz Cláudio Ferreira Rodrigues, 39, titular da Vara Cível de Campos dos Goytacazes (278 km do Rio), justificou sua sentença dizendo que procura "ser sempre o mais informal possível".

Ao determinar o pagamento de indenização de R$ 6.000 por defeito em um aparelho de TV, o juiz afirmou na sentença: "Na vida moderna, não há como negar que um aparelho televisor, presente na quase totalidade dos lares, é considerado bem essencial. Sem ele, como o autor poderia assistir às gostosas do "Big Brother'?".

O magistrado disse que procura ser direto para que o autor da ação entenda por que ganhou ou perdeu. Para ele, quem reclama na Justiça é quem mais deve ser respeitado, porque "é o cara que paga o tributo". "Não adianta ficar falando só o que os advogados sabem sem chegar à cognição do juridicionado. Fiz aquela folha de brincadeira para deixar informal."

Ele argumenta que a expressão foi usada para fundamentar o autor da ação, um senhor que contou ter ficado por seis meses sem assistir ao "BBB", ao "Jornal Nacional" e a jogos de futebol, por um defeito da TV. O juiz diz que não se arrepende.

"[As garotas que participam do "BBB'] Não são escolhidas pelo padrão de beleza? 90% das mulheres que vão para lá são bonitas realmente. Talvez eu tenha pecado pela linguagem. Poderia ter falado: "Deixando de observar as meninas com um padrão físico'", ironizou.

Na sentença, ele ainda faz piada com dois times cariocas. Assim como o autor da ação, que contou ser flamenguista, ele brinca com a situação do Fluminense e do Vasco, que foi rebaixado no ano passado. "Se o autor fosse torcedor do Fluminense ou do Vasco, não haveria a necessidade de haver TV, já que para sofrer não se precisa de TV", diz, na sentença.

"Eu sou flamenguista, mas todo mundo sabe disso. Tem um outro processo em que eu sacaneio o meu próprio time. E não provocou nenhuma celeuma. Eu podia ser criticado se eu fosse moroso demais. Estou fazendo o que meu antecessor não fez."

MALU TOLEDO, da Folha de S.Paulo

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Depois disso, comecei a pensar o que se passava na cabeça do cidadão, porque a justificativa acima não me foi aceita, mas nada me veio esclarecendo. Uma das coisas que mais me impressionam no Direito é justamente a linguagem, e pretendo aprendê-la bem na universidade, pois não há (no meu ver) nada mais belo que uma sentença jurídica. É lindo! Tão prazeroso quanto um poema. E então, vejo toda essa aparência ser decaída neste caso acima narrado. Fiquei pasma, mas não farei comentários.

Apenas espero, por motivos de apreciação pessoal, que “a moda não pegue”.

Thais Barbosa

p.s.: Sei que a reforma ortográfica está em vigor, mas eu aprendi que se acentuam as paroxítonas terminadas em “UM LINURXÃ OS DITONGO” e todas as proparoxítonas. Aprendi que o trema existe e que tem uso, e que os acentos diferenciais têm motivo de existir. Enquanto não me for obrigado, escreverei como eu sei. Desculpas se alguém for contrário a minha opinião, mas não me agrada a idéia de novas regras nas minhas tão merecidas férias...

p.p.s.: Não entrei no mérito de discutir o time que o Juiz se refere, para não levantar outras discussões alheias ao meu propósito.

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