terça-feira, 28 de setembro de 2010

De Perto

Autocontrole. Foco. Olha, o sinal abriu. É que quando você fala, as buzinas cessam e o motor também quer ficar parado, sem trabalhar, ouvindo a voz. A sua. É autocontrole novamente, te deixo e vou.
Relances de algo que vou procurar evitar, por sobrevivência. Sei bem como termina e a jurisprudência está mais que consolidada. É para manter as mesmas palavras: foco, autocontrole, não posso largar mão disso agora. Posso?

É esse meu jeito para ser carente profissional. Advogo por tanta gente e tanta causa perdida, que quando te encontro as coisas ainda fazem algum sentido. Uma grande amiga e professora dizia que eu não resistia a uma boa conversa e um sorriso torto. Ando resistindo, insistindo nisso, porque eu sei das consequências. O problema todo é diagnosticado, como que por ironia e gozação do destino, por uma banda que vem logo para cá. Os paralamas soltam agora, quando você está sorrindo para mim: "não sei viver só e sem sonhar,sem fé,sem ter alguém. Faz tempo que eu te espero e que te quero bem". Tempo que eu consegui manter as mesmas palavras de antes: autocontrole, foco, resistência.

Mas como carente profissional suicida, eu quero te ver de perto. Nem que seja numa canção ou no coração. Embora seja certo que é um certo querer, um querer-bem que não consegue ultrapassar o "mas". O mais das vezes é isso, não ter controle no querer e mais uma vez, prometendo ser a última, esquecer as mesmas palavras: foco, autocontrole e o que mesmo?

terça-feira, 14 de setembro de 2010

(Quase) Lá

É a bola na trave ( que sabemos pelo Samuel Rosa e Nando Reis: não altera o placar). É o rebote desperdiçado. Olhada no jogo paralelo e, bem, aquela chance eu não desperdiçaria.

É o chute torto, o cabeceio por cima do gol. A bola de 3 pontos a dois segundos do fim que bate no aro, mas não cai. São as saudades que não se resolvem, a poesia que foi rasgada na última rima. O escrito de lápis que se perdeu. A caneta que falha.

É a prova que impede a presença. A falta que (não) foi sentida. A porta aberta do carro antes do destino. O som que não pega. E quando pega, pula a faixa. Inferno astral?

Ligação não completada. Visão turva. Garrafa de cerveja vazia, a de água está quente.
O carro responde, mas não há caminhos. A música toca, eu não acompanho. Sinal vermelho, curva da estrada errada. Sol se escondendo. Eu escrevendo.

Te vejo mais tarde?
....

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O que se passa..

Eram os dois amigos conversando entre uma cerveja e outra.

Um deles cita Caio F. : "Tô exausto de construir e demolir fantasias. Não quero me encantar com ninguém.". O outro questiona o motivo. Era mais do mesmo. Por mais que o primeiro tentasse, os caminhos sempre o levavam ao mesmo sorriso aberto e olhos brilhantes.
O que se seguiu foi a seguinte questão:

"Não sei o motivo de vocês dois não estarem juntos , até hoje. Vocês são o casal não-casal mais casal que eu conheço. Vocês implicam como casal, se orientam como casal, quando se juntam passam por casal, embora não se beijem e talvez não se toquem tanto. Porém, meu amigo, poucas vezes vi um olhar tão cúmplice, tão intimo, tão tocante quanto o que vocês tem um para o outro. A química de primeira ordem, por assim dizer, de vocês é fantástica. Calma, não terminei. Eu acreditava - na verdade, eu e as torcidas dos times de vocês - que após o imbróglio todo, vocês estariam juntos. Mais juntos, você entendeu o que quis dizer. É questão de merecimento, de encaixe da coerência final de todas as coisas, de providência divina. É ponto de partida inegável que formam dois inteiros que completam a existência de um universo que vocês bem quiserem.
Vocês são tão bons juntos, que a individualidade de vocês é aparente, mas alcançam, veja bem, alcançam sem fazer força uma compensação de tornarem suaves as duas presenças.
E esses sorrisos de vocês? Vocês iluminam onde estão. Cara, viu? Já estou ficando piegas igual a você. O que eu quero dizer é: Eu acredito que vocês são o melhor plano de um para o outro. Sei que você enxerga isso, e não sei porquê você ainda não tomou decisões fortes".

"É que não é simples, não sei da minha credibilidade nessa seara. Além do mais, se eu disser eu perco, mas se eu não disser, também. E isso é muito complicado."

E com aquele velho drama, o amigo questiona: "Vai deixar a mulher da sua vida passar?"
"É muito mais ato de vontade dela. Eu já dei todas as bandeiras, ela é esperta demais para não saber o que se passa.."

Os dois param e sorriem, porque no som está tocando: "quando é que você vai sacar que o vão que suas mãos fazem é porque você não está comigo?!".

Então, deixa ser como será.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Do ato. Do ato de escrever.

Tenho sentimentos soltos em meu peito que formam um nó de angustia quase físico. Como se fosse algo preso que precisasse se libertar e não soubesse como. Se recorro às palavras, parece que vem efeito imediato de calma, ainda que temporário. Palavras não bastam, pelo menos se a busca é por uma tranqüilidade verdadeira.

Enquanto rabisco palavras sem nem mesmo me dar conta se fazem sentido, me vejo envolvida num torpor mental de efeito psicológico forte. Mundo novo, página em branco. Ah, que desejo de uma página em branco na vida também. Mas em tudo carrego um tanto de mim que jamais será imparcial, verdadeiramente neutro. Experiência própria. Je me souviens...

Pronto, me enganei por mais alguns instantes. Como que se fizesse uso de alguma substância. Me vejo mais leve, me vejo mais fora de mim, ainda que, ao contrário, tenha entrado mais fundo no meu eu.

Coração serenou e lá vem a assinatura. Em breve retorno para me envenenar mais de mim, de palavras.

domingo, 5 de setembro de 2010

Nas curvas da Highway

Eu realmente achava que seria som dissipado com voz, guitarra, contrabaixo, teclado e bateria transformados em boa música de uma das minhas bandas preferidas. Seria rever histórias minhas através de letras e melodias. Seria apenas a constatação da hipocrisia fazendo reino e mais uma frustração em relação a mais uma que não consegue o ir além, que não consegue chegar até mim para ver com os próprios olhos.

Mas a vida, já dizia o célebre Joseph Klimber, a vida é uma caixinha de surpresas. Eu começava a acreditar que na boca, ao invés do beijo, seria nem o chicle de menta; apenas a bebida e a sombra de um sorriso imaginado. Contudo, volto às surpresas. Por cerca de 5 horas eu esqueci de tudo. Da OAB, do mestrado, da monitoria, do grupo de estudos, das 9 matérias, do positivismo, dos artigos, dos trabalhos, provas, teste de verificação de presença, leituras por fazer, do que quero ser quando crescer, para apenas ouvir som de vozes de quem sabe viver. Tudo isso através de uma simples pergunta: "você gosta mesmo da banda?" e uma simples resposta com sorriso: "sou viciada".

E aí, como um vício bom, que por isso se torna uma virtude, toda a tensão da semana de um discurso de justificação de ações morais preparado para explicar o que fui, quem sou e quem pretendo ser foi parar na lata de lixo mais próxima. Aquelas palavras pronunciadas rapidamente de alguém que fala sobre algo que realmente ama me fez ter a seguinte constatação: Sem ensaio nem rascunho. O caminho a gente faz andando. Andando para frente, claro. E, de repente, não mais do que repente, eu tinha a sensação de que "conheci uma guria que eu já conhecia, de outros carnavais, com outras fantasias". E falamos de Engenheiros-Nando Reis - Ultimo show do nando que ela não foi, ultimo show dos Engenheiros que ambos estávamos lá - Direito - Arquitetura -Virar noite - Projetos, e ai eu me peguei sorrindo desarmado como há muito tempo não acontecia. Um cheiro da paz risonha do encontro que é bom. E, sei lá, piegas como sempre, eu acho que ela tem cheiro de flor quando sorri. 

E não rolou nada, digamos, físico. Foram outras frequências. E talvez seja por isso que falo de desarmamento de sorrisos tranquilos. E descobri a diferença brutal entre um Arquiteto e um Engenheiro Civil. Afinal, o primeiro, no caso a primeira, pensa. E também houve algo sobre intercâmbio. E foi ai que percebi que não é preciso viajar necessariamente fisicamente para descobrir novos mundos. E até minha velha casa, o Cultural Bar, ficou diferente. Afinal, eu nunca havia reparado no teto do cultural, e nem o design em curva ali do canto do bar. No meio das defesas todas, eu não sabia como me defender, não conseguiria, ainda que tentasse; e agora estou eu escrevendo sem ter a mínima noção se vou publicar. É porque havia troca, troca é quando duas vidas se sentem olhadas ao mesmo tempo. Havia algo que fazia um coração falar com o outro, ouvir o que era dito, gostar do que era dito, rir com o que era dito, sentir-se espelhado, sentir-se enternecido, querer brincar, muito além do que qualquer palavra, por qualquer motivo, por qualquer defesa, tentasse, em vão, esclarecer. Uma vontade de parar todos os relógios do mundo para eternizar a dádiva da presença compartilhada, e a impressão de que às vezes até conseguíamos.

E a banda cantou "teus lábios são labirintos, ana". Eu quis completar com a primeira parte do nome, mas eu consegui controlar meu instinto de fazer piadinhas forçadas. E até agora não sei como fiz isso. Quem me conhece, sabe: Tenho a incrível capacidade de parecer idiota em momentos assim. Eu nem precisei do conhaque para me livrar do inverno que entrava pela porta que "você" deixou aberta ao sair. Você? Quem? Era algo assim que fazia falta, talvez; ou certamente. Algo que inaugura primavera, tanto faz se é inverno

O mais incrível é que não sei se haverá continuidade. Porém, não importa se só tocam o primeiro acorde da canção, a gente escreve o resto em linhas tortas nas portas da percepção, em paredes de banheiro, nas folhas que o outono leva ao chão, em livros de história seremos a memória dos dias que virão (se é que eles virão).Não importam se só tocam o primeiro verso da canção,a gente escreve o resto sem muita pressa, com muita precisão.

No meio das defesas todas, havia algo que não se defendia, não sabia como se defender, não conseguiria, ainda que tentasse. E vamos em frente, o mundo fica para outro dia.